Slider

Resenha | Tranquility Base Hotel & Casino - Arctic Monkeys

Após um hiato de quase cinco anos sem novos registros, o Arctic Monkeys regressa à cena em um momento mais maduro.
Arctic Monkeys
Foto: Zackery Michael

Cinco anos após AM, o Arctic Monkeys retorna com um trabalho mais maduro


"I just wanted to be one of The Strokes"

Após um hiato de quase cinco anos sem novos registros, o Arctic Monkeys regressa à cena em um momento mais maduro. O novo conceito que é tratado em Tranquility Base Hotel & Casino foge daquele instrumental intenso visto no álbum anterior. AM é marcado por possuir, de uma forma geral, guitarras e timbres mais explosivos. Ainda assim, o disco lançado em 2013 pretendia ser mais sério e coeso em comparação com o registro anterior. De fato ele foi, porém, ainda existia resquícios de uma banda nem tão madura assim. AM foi um álbum que marcou época e está no coração de muitos fãs do Arctic Monkeys.

Levando isso em consideração, finalmente eles chegaram ao ápice da maturidade, talvez onde realmente queriam estar (pelo menos no momento). Tranquility Base Hotel & Casino é o culminar de anos de experiência, de uma maturidade atingida, que foi promovida talvez, por um hiato. O conceito apresentado aqui não foca em trazer uma melodia agitada, pelo contrário, o instrumental presente é mais consistente, com elementos do jazz e soul. Nesse novo registro, a banda deixa de lado a fixação pela guitarra e passa a experimentar outros instrumentos, garantindo um conjunto sonoro mais amplo do que o trabalho anterior.

Desde Star Treatment à The Ultracheese (início e fim), o disco se discorre de forma natural e coesa, formando um propósito elaborado por Turner e sua banda.

Em Star Treatment, Turner fala sobre suas tretas do passado, inspirações antes da fama e ao longo da vida como uma estrela, com uma deliciosa linha de baixo ao fundo. A faixa também usa introspecção para homenagear ícones como The Strokes e Leonard Cohen. "I just wanted to be one of The Strokes / Now look at the mess you made me make".

Outro ponto de destaque, é a presença constante do piano nas canções. Como pode ser visto em uma lista de referências revelada por Alex Turner, Lô Borges e sua musicalidade deixaram uma grande marca nesse disco. Um exemplo disso é a música One Point Perspective que, logo no início, remete ao piano da canção Aos Barões, do compositor brasileiro.

A faixa American Sports, traz uma reflexão, relatando a obsessão e o hábito humano e como tudo isso é insignificante frente ao universo. "So when you gaze at planet earth from outer space / Does it wipe that stupid look off of your face? / I saw this aura over the battleground states".

Na Tranquility Base Hotel & Cassino, existe uma forte referência a David Bowie e seu último trabalho Black Star, seja pela musicalidade meio sombria ou pelos vocais presentes, que aumentam ainda mais esse clima da canção.

Assim como Golden Trunks, a última faixa do disco The Ultracheese, nos leva para uma viagem nostálgica, com um instrumental bem anos sessenta e setenta. Essa influência sonora que marcou os anos sessenta e setenta, pode ser vista também em Eleanor Rigby.

Four Out of Five apresenta também uma sonoridade dos anos setenta, e lembra um pouco o último álbum do The Last Shadow Of Puppets. A seguir, Turner dá detalhes sobre o que é o tal Tranquility Base Hotel & Casino em uma temática espacial. "Take it easy for a little while / Come and stay with us It’s such an easy flight / Cute new places keep on popping up".

The World's First Ever Monster Truck Front Flip faz uma analogia ao descrever o interesse das pessoas por dispositivos, como fosse igual ao amor por seres próximos."Pattern language in the mood for love / You push the button and we’ll do the rest".

Science Fiction é uma canção que é cheia de referências à cultura pop e Sci-fi, tanto na letra, como no instrumental. Ela é marcada pela presença do teremin, que acaba deixando a música parecida com filmes de terror antigos. Outra canção que tem um diferencial no disco é Batphone. A música revela a versatilidade e a capacidade do grupo em conectar diversos estilos musicais e criar o próprio.

Analisando as letras de todas as faixas que compõem o álbum, é notável uma influência e temática envolvendo ficção científica – o próprio Alex Turner confirmou isso em uma recente entrevista. Essa temática espacial de ficção científica na sonoridade e nas letras das canções, é uma influência de ícones como David Bowie e Pink Floyd, que trabalharam muito em cima disso no passado.

Em ecos de Bowie e Lennon, o Arctic Monkeys nos mostra mais uma vez como encerrar um disco com chave de ouro em The Ultracheese.

O disco provavelmente não vai agradar boa parte do público e causará divisão de opiniões entre os fãs – algo que acontece com frequência quando há um amadurecimento e uma evolução nas canções. De uma forma geral, Tranquility Base Hotel & Casino é um grande avanço para o Arctic Monkeys, uma obra que passa longe do mainstream e foca no interior da banda.



0

Nenhum comentário

Postar um comentário

both, retrama
© RETRAMA - Todos os direitos reservados.
contato.retrama@gmail.com