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Resenha | Vivendo do Ócio – Vivendo do Ócio

Após se passar cinco anos desde o último registro, Selva Mundo (2015), a Vivendo do Ócio regressou à cena com uma porrada na cara dos velhos costumes da "família tradicional brasileira"
Vivendo do Ócio
Foto: David Campbell
Banda baiana está de volta com disco homônimo em temas como liberdade e amor

"Que adianta riqueza e pobreza de alma?"

Após se passar cinco anos desde o último registro, Selva Mundo (2015), a Vivendo do Ócio regressou à cena com uma porrada na cara dos velhos costumes da "família tradicional brasileira". Com participaões especiais de Luiz Galvão (Novos Baianos) e Fábio Trummer (Banda Eddie), nas faixas "O Amor Passa no Teste" e "Paredes Vazias", respectivamente, o novo e homônimo disco foi produzido por Thiago Guerra (Fresno) e Gabriel Zander.

Composto por uma bela capa e dez canções, o quinto álbum de estúdio da banda traz consigo críticas, reflexões e buscas em nosas vidas no atual cenário brasileiro – bem como a liberdade e o amor, o preconceito, a riqueza sem qualidades de mentes pobres e o sistema que nos trata apenas como números e formas de lucro.

Os discos anteriores, como O Pensamento É um Imã, possuíam em sua essência elementos do indie-rock que estava em grande fase na época. Porém, no consagrado Selva Mundo – que teve participações de Pepeu Gomes, Lirinha e Thadeu Meneghini (Vespas Mandarinas) –  já era notável uma mudança nas composições. Havia uma maior presença de temas mais pesados e críticas sociais, como nas faixas "Porrada" e "Prisioneiro do Futuro". E também o aspecto de elementos sonoros mais próximos à música brasileira, com influências nordestinas marcantes, consolidando a banda no cenário nacional.

Na sua sonoridade, em Vivendo do Ócio temos guitarras e riffs altos e pesados, em uma pegada diferente que transcende o rock à variados estilos, como MPB, bossa-nova, reggae e R&B. Não podemos esquecer da bateria e baixo, que estão bem presentes no disco. E pra completar, temos o acréscimo de metais, sintetizadores e teclado.

Arte da capa do álbum 'Vivendo do Ócio' por Luca Bori. Foto: Divulgação


A banda dá a largada em"Cê Pode" nos mostrando como podemos ser livres em buscarmos quem realmente queremos ser, sem medo e preconceitos. Há também a presença de uma crítica àqueles que desdém de forma preconceituosa da liberdade: "Se incomoda com quem é livre, pois é / Um pássaro em uma gaiola pendurada num balão / Acha que voa, mas só sente a sensação /Acha que voa, mas é pura sensação".


"Amor Passa no Teste" fala sobre as incertezas da vida, da trajetória que pode ser sofrida, das dificuldades que vivemos, bem como tudo isso pode ser superado com amor e coisas simples, feito uma brisa à beira-mar. Talvez tenhamos aqui um exemplo de que o valor e significado está nas coisas simples da vida.

"Paredes Vazias" relata a desvalorização da arte, os costumes estranhos da "família tradicional brasileira" e o consumismo como forma de conquista, mostrando o quão pobre é a mente e a alma das classes altas da sociedade. "O mundo pobre do rico / O rico pobre do morto / Casa de vidro, o mundo é louco / Comemora a conquista no que consome /Dissimulada a alma some".

A perca da visão do presente e a ignorância são os temas tratados em "O Agora", numa busca de algo que já pode estar acontecendo e você ainda não se deu conta.

Em "Massagem de Ego" temos a crítica ao afastamento das pessoas com coisas mais importantes da vida, o mergulho no mar de ilusão que pode ser a internet, com fake news e padrões de vida impostos. "O importante é não ficar só / O importante é não desconectar / Rodeado de telas não sobra tempo nem pra pensar em quem eu sou / Quem eu sou?"

Com uma sonoridade mais leve e desacelerada, "Evolução" nos faz pensar no sistema capitalista, onde somos apenas números e peças que vão ser subistuídas, uma crítica direta sobe o lucro valer mais que uma vida.


"Sou um prédio esquecido no centro 
Planta cresce no cimento 
A cada clique um adeus à liberdade 
Eu sou a fumaça gerando grana 
Laçando os corpos dos que revezam 
Para interesses de apenas alguns"

Teorias e pensamentos reflexivos são inseridos em "Nova Ordem", uma das faixas mais enérgicas do disco. "E assim a vida continua / Embriagados em nossa ignorância / Terceira Guerra começou faz tempo, enquanto você dança / Pra te controlar, muita tecnologia e entretenimento / Pra você se afastar mais de você a cada momento". A faixa ainda nos revela como pode ser corrompida a mente humana: "Guerras não são pela paz / Dinheiro é o satanás Que faz o homem enganar e matar / Em nome de Deus / Mesmo que ele seja ateu"

A faixa mais curta do disco, "Muito", é direta na mensagem: "Vou viver minha vida em paz / Vou quebrar o muro / Eu não quero muito", com um gostinho de carnaval ao fundo, na percussão.


"Il Tempo" composta em italiano, nos diz sobre a sociedade de hoje, onde não se tem mais tempo para nada, e o sofrimento que isso causa. No caso, a música relata um romance onde as pessoas mal conseguem se ver.



E pra fechar o disco, "Vestígios" traz como tema a uma amizade verdadeira, sobre saber perdoar, revitalizar e valorizar os sentimentos com alguém próximo.

"Vestígios de nós em todo lugar  
Você vai lembrar, nossa guerra já acabou 
Nossa redenção equaliza a alma e o coração
E o que somos nós? 
O que ficou de nós?"


A banda que já era consolidada pelo estilo próprio, deixou mais uma boa marca com o novo registro, que merece notoriedade no cenário atual.

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